RALOUIM
O mesmo palhacinho aí de baixo virou o vampiro aí do lado. Não disse que o cara gostava de festa? Então. Dez dias depois de ir a uma, vestido de palhaço, foi a outra, vestido de vampiro. Mas é baladeiro, hein...
O que me traz aqui, no entanto, é o motivo pelo qual ele virou vampiro. Hoje é o tal do RALOUIM. Aquela festa celta que foi comprada pelos estadunidenses e vendida para nós por ROLIÚDE.
Que somos facilmente conquistados pelos povos do Norte, isso não é novidade. Mas, sinceramente, nunca vi um hábito tão estranho à nossa cultura se incorporar tão rápido.
Há oito ou dez anos atrás, falava-se do tal RALOUIM como uma curiosidade. Nenhuma criança brasileira saía tocando campainha da casa dos outros, vestindo fantasia de bruxa, dizendo gostosuras ou travessuras. Pelo menos tiveram a decência de traduzir a expressão "trick or treat".
Hoje, graças à ajuda da imprensa brasileira (repercutindo a data e explicando seu significado à exaustão) e às escolas (!!!!!), que a comemoram e pedem até trabalhos para os pequenos, as crianças brasileiras celebram o RALOUIM, sem nenhuma ligação cultural com a data e com o evento. Repetem o comportamento de culturas estrangeiras como autômatos imitadores, apenas porque é moda, é legal, é bacana. Ou alguém disse que é.
Não sou daqueles nacionalistas radicais, xenófobos (como são, por exemplo, os estadunidenses) e penso que a cultura é algo universal, que deve ser partilhado. Se não podemos atingir a utopia de sermos um único povo (nacionalidade: terráqueo), que pelo menos compartilhemos nossas culturas de maneira fraterna. Contudo, partilhar não é praticar. Praticar atos ou comportamentos de uma cultura tão distinta da nossa, incorporando-a aos nossos hábitos, sem a mínima identidade com aquilo, me parece uma forma subliminar de colonização. E é! Estamos prontos para sermos invadidos pelo exército estadunidense, cujos soldados não terão a menor dificuldade em se comunicar em inglês conosco, como têm para mandar um iraquiano se identificar numa barreira militar em Bagdá.
Nossa alma já está conquistada e isso facilita muito as coisas. Gostamos da sua lingua, gostamos da sua comida, gostamos do seu jeito de vestir, gostamos da sua música. Na verdade, almejamos ser eles. Sonhamos ter nossa Nova York, nossa Disneyworld, nossa Las Vegas. Até nosso gestual chulo foi contaminado. Quando eu era jovem adolescente e queria mandar alguém "tomar no cu" (com o perdão da má palavra), unia o indicador ao polegar, formando um círculo e deixava os três dedos restantes estendidos. Se fizesse isso, era briga na certa. Hoje, ninguém vai entender este sinal. Agora, experimente recolher todos os dedos da mão e deixar estendido o médio na direção de alguém, como vemos nos filmes de lá; é capaz de você ouvir de volta um grito: "Fuck you!!!"
Acho que esse vampiro do RALOUIM, está sugando o nosso sangue brasileiro.