terça-feira, 31 de julho de 2007

CELEBRAR...SE LEMBRAR...

Dia 24, este espaço completou um ano de existência. Esqueci... Minha mãe dizia que a gente só esquece do que não interessa. Penso que ela tinha (tem) razão.
Mas não é ao blog que não dou importância. Não dou importância à data. Ou à comemoração da data. Tenho uma tendência a esquecer aniversários e datas comemorativas. Inclusive as minhas e de meus chegados. Até hoje não tenho uma explicação razoável para isso. Mesmo pequeno, não gostava muito do dia do meu aniversário. Ficava num estado de tensão e desconforto. E não gostava da festa. Como não gosto hoje.
Pra dizer a verdade, a única festa de aniversário que curti muito foi quando completei cinqüenta anos. Os emblemáticos cinqüenta anos. Essa foi muito diferente porquê minha mulher preparou uma festa-surpresa. Convidou um grupo pequeno de amigos e conseguiu manter tudo em segredo. Armou uma arapuca pra mim em minha própria casa e, inteligentemente, usou minha própria ojeriza a festas em geral, como isca. Disse que precisava ir a uma festa de aniversário de uma amiga e que gostaria muito que eu fosse com ela. Arriscou, porque eu poderia concordar. Mas ela sabia da minha má vontade. Respondi que, se fosse absolutamente necessário eu iria, mas que preferia não ir, "porque ela não ia com alguém", etc.. etc... Pronto! Isca engolida...
Na hora da festa todos se vestiram e saíram de casa. Eu, feliz da vida, vesti minha camiseta mais velha, rasgada e manchada, e o moleton mais ridículo, pra ficar gostosamente em casa, não fazendo nada, vendo TV, bundando...
Quando estava na mais absoluta paz, deitado no sofá, vendo um filme babaca qualquer, toca o interfone. Já levantei mal humorado. O porteiro avisava que o síndico precisava falar comigo e me aguardava no térreo. Pensei comigo: "Que porra esse cara pode querer comigo num sábado às dez da noite?". Vesti um ridículo chinelo e desci de cara amarrada e amarrotada. Tudo estava escuro no térreo. Fui até a guarita e perguntei ao porteiro onde estava o síndico. Ele respondeu que estava me esperando perto da churrasqueira, atrás do salão de festas. Pensei em algum problema de infiltração repentina ou uma emergência elétrica qualquer que pudesse por em risco o prédio, pra justificar aquele chamado tão inoportuno. Quando passei pela porta do salão - todo apagado - ouvi alguém chamando meu nome. Achei estranho, mas fui chegando até a porta devagarinho... O desfecho é óbvio: luzes se acendem repentinamente e uma multidão de caras conhecidas - totalmente inesperadas - canta o mais estrondoso e barulhento "Parabéns a Você" que eu já ouvira. Fiquei parado, completamente sem ação, sem saber o que sentir nem o que pensar. Num ambiente todo decorado com muito bom gosto, literalmente cercado de gente vestida e enfeitada para a ocasião, na minha própria festa, lá estava eu, ridiculamente vestido, usando uma roupa com que, certamente, não receberia nem minha própria mãe. Foi o melhor choque que levei em toda a minha vida. E ficou uma lembrança muito gostosa desse momento.
Mas isso foi especial. Continuei e continuo não dando a menor importância para essa contagem de tempo. Os ciclos internos - aqueles que realmente marcam as mudanças essenciais da vida - não são medidos em tempo, segundo uma unidade de medida física. O tempo interno é outro. E é esse que vale. Cada um tem o seu e, na maioria das vezes, nosso tempo não está em harmonia com o tempo dos outros. Às vezes, nosso tempo de falar não é o tempo de ouvir do outro. Nosso tempo de calar acontece justamente quando alguém precisa da nossa palavra. E assim, vamos esbarrando nas desarmonias...
Contudo, tive uma lembrança atrasada, mas espontânea desta data. Achei, então, que devia registrar o evento. Menos por mim do que por alguns bons amigos que fiz, justamente por causa deste espaço. Estes encontros, sim, merecem ser comemorados. Todos os dias. Todas as horas. A qualquer tempo.
Há gente que detesta a internet. Hoje mesmo, li que Elton John pediu a extinção da internet (leia aqui). Diz ele que "a internet fez com que as pessoas deixem de se comunicar e se encontrar" (sic). Na verdade, Elton John está preocupado com a vendagem de seus discos, que despencou - como de outros artistas - por causa da troca de arquivos na rede. Ok, isso é assunto a ser discutido. Agora, acabar com a internet por causa disso é o mesmo que acabar com a aviação porquê houve um terrível acidente ou porquê, nas guerras, os aviões são utilizados para fazer bombardeios e matar gente. Ora, não é a aviação que está errada. É o uso que as pessoas fazem dela.
Minha experiência com a internet é de total encontro. O argumento que Elton John usa é pueril e falso. Ele mesmo admite ser um "tecnófobo". Aliás, conheço vários assim. Como alguém, que detesta tecnologia, computadores e internet, pode opinar sobre o que não experimenta?
Conheci gente com quem tive a maior afinidade, por aqui. Outras, nem tanto. E outras, ainda, nenhuma. Assim como na vida real. Me aproximei cada vez mais de quem me senti afim. Me afastei de quem não gostei. Como na vida real. Às vezes, fico um tempão sem fazer contato com gente de quem gosto muito. Como na vida real. Às vezes, alguém me enche o saco na rede. Como na vida real.
As pessoas de quem me aproximei e com quem fiz laços de amizade calorosa e carinhosa - embora não as conheça pessoalmente e nem saiba de seus lados fracos e escuros, assim como ocorre na vida real - essas pessoas fazem valer muito a pena suportar os personagens peversos com quem me deparo eventualmente no mundo virtual. Assim como ocorre no mundo real.
Como disse, é por estas pessoas - pelos amigos e amigas que me visitaram; os que deixaram de presente suas palavras; os que vieram se "encontrar" comigo aqui, como se viessem à minha casa; os que vieram, leram e foram embora sem nada comentar; os que reclamaram quando demorei pra aparecer; os que se preocuparam, quando me perceberam triste; os que sorriram de volta, quando eu sorri pra eles através da minha palavra escrita; os que me receberam com carinho e hospitalidade em seus sítios; os que foram cúmplices, mesmo não concordando e os que discordaram sem perder a ternura (parafraseando um famoso guerrilheiro) - é por eles e elas que eu registro esta data. E é nelas e neles que penso, quando lembro que, há um ano, tomei posse deste espaço.
Quando publiquei meu primeiro artigo, em 24 de julho de 2006, perguntei a mim mesmo: "Quem será que vai ler isso? Que interesse alguém pode ter por isso?" Há um ano deixo aqui alguns fragmentos de mim mesmo. Hoje, sei a resposta àquelas perguntas. Esses e essas que vêm aqui, têm interesse por mim. Isso é o que pessoas afins sentem umas pelas outras: interesse, no sentido mais elevado da palavra. Interesse que significa atenção, carinho e aquela maravilhosa sensação de ver-se no outro. O que nos torna cúmplices e unos. O que nos ampara, nos acolhe e nos aquece, em meio ao inevitável frio da solidão humana.


A estes amigos e amigas dedico esta data.

4 comentários:

Andréa disse...

Poxa, Paulo, o aniversário é do blog e a gente é que ganha presente? Só você mesmo. Depois vem posando de mal-humorado. Tu só rosna, mas como bom cachorrão é amigo fiel. PARABÉNS pelo blog inspiradíssimo! É uma delícia vir aqui ler seus pensamentos, dilemas e histórias. E suas fotos então? Vixe, sou fã declarada. Esse blog demorou em virar livro. Dois dos meus posts favoritos são "Caminhos e Encruzilhadas" e "Blackbird". É muito legal conhecer mais sobre você e ao mesmo tempo viajar no tema. Até quando fala de si próprio você é generoso o bastante pra não soar completamente umbiguista e isso é um oásis nessa blogosfera cheia de "eu, eu, eu". É sempre um prazer vir aqui.

Feliz Aniversário e vida longa às Crônicas Agudas: exatamente o que meu médico receitou! :)

F. disse...

Puxa, você voltou em grande forma, amigo. Demorou mas valeu à pena. Abraços.

O Chato disse...

Foi ótimo ver sua cara naquele dia da festa surpresa! hehe

Parabéns pro "blog".

bjo

Anônimo disse...

Parabens pelo Blog e suas crônicas muitas vezes inspiradíssimas. Legal que estava naquele dito aniversário
Didu