segunda-feira, 24 de julho de 2006

OLHARES

Aquela história do sapo que vira príncipe... Era mentira... Quem nasceu pra sapo não vira príncipe coisa nenhuma. Pode beijar à vontade. Selinho, beijo de língua, beijo molhado, beijo técnico, nada disso adianta.
Mas essa lenda continua sendo ensinada pras criancinhas indefesas; e elas acreditam até o fim da vida. Morrem infelizes, porque não conseguiram transformar o sapo em príncipe. E cá entre nós, é difícil gostar de um sapo! Não é tanto pela pele gosmenta e aquela voz meio rouca que sai do papo distendido. O pior do sapo, de resto um animalzinho de boa índole, é o olhar. Ou melhor, a falta de olhar. É, porque um sapo não tem olhar; tem olhos, tudo bem, mas não tem olhar. O olhar é algo que vem lá de dentro, só sai pelos olhos, mas está lá dentro, em algum lugar.
E, na verdade, a gente se apaixona pelo olhar e não pela pessoa. Não há maneira de você não se apaixonar quando os olhares se cruzam e aquela luz esbarra uma na outra como laser na célula foto-elétrica: todos os alarmes disparam e a gente é literalmente invadido, mesmo com os alarmes anti-invasão gritando desesperadamente.
É isso que torna impossível a gente se apaixonar pelo sapo. Não é a feiúra. Se fosse assim, gente feia não conseguia namorado. Mas consegue, sabe por quê? Não é porque o amor é cego e outras desculpas românticas esfarrapadas. É porque quando a gente enxerga o olhar do outro, lá dentro, tudo o que existe fora perde a importância, deixa de existir.
Daí pra frente, a gente só tem olhos para os outros olhos. Ou melhor, só tem olhar para o outro olhar...
Por isso é que o Tom fez aquela letra: "Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos seus resolvem se encontrar... Ah! que bom que isso é Meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar...!"

3 comentários:

Lili disse...

Até a Bíblia diz que "os olhos são as janelas da alma"...

Andréa disse...

Nossa, isso aqui foi uma das coisas mais românticas que eu já li na minha vida, Paulo. Cacete. É tão verdadeiro, que enquanto eu lia fui me lembrando das vezes em que me apaixonei nessa vida. Está tudo no olhar, mesmo. Tudo. Nossa...

Andréa disse...

Ai, e essa segunda foto do sapo é a coisa mais fofa. :)