sábado, 10 de fevereiro de 2007

FAÇA A SUA PARTE! E REZE...

Prometi à minha amiga Andréa N., a linda autora do delicioso In Other Worlds, que iria participar de uma corrente, iniciada no Faça a sua Parte, cujo objetivo é aumentar e difundir a consciência ecológica.
A corrente consiste em divulgar três atitudes ecoconscientes que adotamos em nossas vidas. Publicá-las e passar adiante para, pelo menos, três amigos, de maneira a difundir o tema.
Sou um pouco chato. Ao longo da vida, de queda em queda, fui atingindo um grau muito grande de ceticismo em relação ao gênero humano.
De forma que, a convocação para esse tipo de evento passou a me parecer tão bonita quanto inócua. Admiro a persistência e a esperança de quem se envolve neles. Mas, simplesmente, não acredito.
Sinto-me mal com isso. Essa desesperança é vista com maus olhos. É percebida como uma atitude destrutiva, não colaborativa, como um boicote. É como se eu fosse contra o movimento e estivesse deliberadamente sabotando, com idéias pessimistas e negativas.
Bem, isso não é verdade. É que acredito muito mais na capacidade transformadora da reflexão. Meu espírito, nessas horas, é muito mais científico. A ciência, por natureza, é cética. Só acredita em provas absolutas. E, principalmente, na busca das causas dos fenômenos e não nas suas manifestações mais visíveis.
Assim, prefiro tentar pesquisar os "porquês", acreditando que, conhecendo as causas, poderemos combater melhor seus efeitos.
Por quê o homem aje assim? Por quê teima em destruir o próprio ambiente numa atitude suicida? Pior: genocida. Ouço falar em aquecimento global, efeito estufa, emissão de dióxido de carbono, destruição de florestas e tudo isso há, pelo menos, trinta e cinco anos! Estudei isso no colegial, gente. Isso foi em 1970!!! Por quê, sabendo disso há tanto tempo, ninguém fez nada para deter o processo. Por quê só agora, quando começam a aparecer os primeiros sinais da hecatombe anunciada, passamos a falar - alarmados - disso tudo? Ninguém sabia?
Então, o que acontece? Burrice? Premeditação? Interesses econômicos? Quem ganha com isso? Por quanto tempo? Não haverá ninguém para aproveitar os lucros da devastação, daqui a parcos cem anos!! Na verdade, não haverá lucro, porra nenhuma. Daqui há pouco, muito pouco mesmo, nós - os ecoconscientes - estaremos agonizando com desidratação, fome e câncer - provocado pela radiação solar ou por pesticidas organo-fosforados, ou ainda por carnes e cereais transgênicos - bem ao lado de um ecodestruidor, tão fraco que não consegue levantar a motosserra na sua mão. Todos poeticamente irmanados na mesma dor. E nossas carcaças semi-mortas, ficarão entregues às baratas, aos ratos e aos urubus. Não, nem isso. Só às baratas, que dizem resistir até a guerras nucleares, de tão fortes. Os ratos e urubus estarão apodrecendo ao nosso lado ou boiando afogados na onda gigante do último maremoto.
Essas perguntas são de difícil resposta. Digo por mim, que sou um ignorante. Mas, outros mais inteligentes e com mais informação trazem alguma luz à questão. Contardo Calligaris, psicanalista e colunista da Folha de São Paulo, escreveu em sua coluna da última quinta-feira, uma idéia do que se passa na mente humana, sobre essa questão. Sugiro a todos a leitura integral do artigo, que tem sua versão eletrônica disponível aqui, para os assinantes do jornal ou do provedor UOL.
Para os que não têm esse acesso, resumo suas idéias básicas.
O autor parte da tese, a meu ver correta, de que a solução dos problemas ambientais, depende de uma atitude coletiva. Isso parece óbvio, mas é o grande obstáculo. Vejam o que diz Calligaris:

"Os humanos (sobretudo na modernidade) prosperaram num projeto de exploração e domínio da natureza cujo custo é hoje cobrado. Para corrigir esse projeto, atenuar suas conseqüências e sobreviver, deveríamos agir coletivamente. Ora, acontece que nossa espécie parece incapaz de ações coletivas. À primeira vista, isso é paradoxal.
Progressivamente, ao longo dos séculos, chegamos a perceber qualquer homem como semelhante, por diferente de nós que ele seja. Infelizmente, reconhecer a espécie como grupo ao qual pertencemos (sentir solidariedade com todos os humanos) não implica que sejamos capazes de uma ação coletiva.
Na base de nossa cultura está a idéia de que nosso destino individual é mais importante do que o destino dos grupos dos quais fazemos parte. (grifo meu) Nosso individualismo, aliás, é a condição de nossa solidariedade: os outros são nossos semelhantes porque conseguimos enxergá-los como indivíduos, deixando de lado as diferenças entre os grupos aos quais cada um pertence. Provavelmente, trata-se de uma conseqüência do fundo cristão da cultura ocidental moderna: somos todos irmãos, mas a salvação (que é o que importa) decide-se um por um. Em suma, agir contra o interesse do indivíduo, mesmo que para o interesse do grupo, não é do nosso feitio. (grifo meu)
Resumo do problema: hoje, nossa espécie precisa agir coletivamente, mas a própria cultura que, até agora, sustentou seu caminho torna esse tipo de ação difícil ou impossível."

A observação mais prosaica parece comprovar o que Calligaris diz no seu texto. É no tráfego urbano que mais dependemos da ação coletiva. De que adianta eu transitar corretamente na faixa da direita, em velocidade permitida e na correta mão de direção, se os demais não fizerem a mesma coisa. No entanto, um humano dentro de seu carro, passa a ser o emblema mais bem acabado da individualidade egocêntrica e perversa. Justamente na situação em que ele deveria agir de maneira mais coletiva possível, para que o grupo dos que estão dirigindo - e do qual faz parte - tenha um mínimo de segurança e ordem. Lembro de um desenho que passava na televisão da minha infância. Era narrado em off e mostrava o Pateta, com aquela cara de sonso e bocó, caminhando lentamente para o carro. Ele entra e, no exato instante em que vira a chave na ignição, sua face se transforma: adquire uma expressão enlouquecida e diabólica, com um sorriso sarcástico. Arranca cantando os pneus e sai por aí fazendo barbaridades. O locutor vai didaticamente mostrando o que é certo e errado, ilustrado por uma sucessão de atitudes individualistas do Pateta-Monstro. Depois de provocar mil acidentes fatais com sua falta de educação e de espírito coletivo, ao sair do carro, volta a ter sua cara de pateta, sonso e sonolento. A mais inofensiva das criaturas.
É isso o que somos: monstros individualistas, travestidos de cidadãos conscientes. O resto é hipocrisia. E, digo mais. Só aceitando esse nosso lado escuro (ou seja, reconhecendo a causa), sabendo que ele existe em cada um de nós, é que poderemos controlá-lo (vejam que não disse eliminá-lo) e tentar uma atitude que beneficie o grupo, mesmo que nos prejudique como indivíduos.
Mas não se iludam. Isso só vai acontecer quando as águas baterem em nossos umbigos. Não no sentido figurado. Só quando a última geleira derreter. Só quando o Empire State, a Torre Eiffel, a Esfinge, o Palácio de Buckingham e o Pão de Açúcar estiverem submersos. E quando as dunas escaldantes da floresta Amazônica estiverem sendo percorridas por alguns camelos sedentos, à procura de um improvável oásis.
É isso. Só nos moveremos em uma atitude coletiva realmente transformadora, se nossa sobrevivência individual ficar ameaçada. Nunca por altruísmo ou para a preservação da nossa espécie. Mas então, pode ser tarde.
Contardo Calligaris continua:

" Não sou totalmente pessimista. [...] ...quem sabe a mudança climática nos obrigue (grifo meu) mesmo a transformar nossa cultura."

Só tomaremos uma atitude coletiva, obrigados!
Que o meu pessimismo e a minha amargura provoquem em vocês tal indignação que, ao comentar minha falta de fé no movimento, consigam difundir mais ainda as idéias maravilhosas que vocês têm sobre a preservação ambiental. Essa é a contribuição que posso dar.

Ah! A propósito: separo lixo reciclável, não desperdiço comida, não fumo e sou um cidadão respeitador da lei.

11 comentários:

Anônimo disse...

Quanto ao "Não desperdiço comida"... Isso é ÓBVIO!!! hehe
BJO!

Anônimo disse...

consegui fazer uma garota q trabalha comigo para de usar copos descartáveis e usar uma caneca. melhor q nada. por outro lado, ela usa mais água pra lavá-la... ser ecologicamente correto é uma tarefa dificil...

Anônimo disse...

O mais chato mais consciente que pude conhecer até então.
Sou daquelas que separa (e lava) o lixo recliclável.
Que usa o mesmo copo descartável um dia inteiro e apago luzes e fecho torneiras mesmo quando não sou eu quem paga a conta.
Adianta, não sei. Mas um dia o Betinho disse (não foi sobre ecologia, claro), mas cada um faz um pouquinho e... Quem sabe?
Gosto da tua sinceridade, pintada por si mesmo de pessimismo. Para mim, realidade.
Beijo grande!

PS: em tempo, não consigo abandonar a carne vermelha. :(

Andréa disse...

Voce eh tao rock and roll que com essa sua atitude revoltada e mentalidade de contra-mao vc escreveu um post mais ecologico do que muitos que li por aih. Danado, voce.

By the way, a Cher vai fazer companhia as baratas e nos pelo menos nao vamos precisar presenciar. Ta vendo? Tudo tem o seu lado bom. E obrigada pelos elogios!! Ruborizei total.

TE ADORO!

Anônimo disse...

Oi, amore, tô gravida !!! Tô carregando aqui dentro mais um vegetarianozinho (a) responsavel pelo bem desse mundão de meu Deus, por isso, a sumida basica ! =)
Mas ja vim aqui duas vezes e esse seu negocinho de comentar me deixou na mão, mas como agora estou criando meu blog, nos falaremos com mais frequência !
Um beijo, meu querido e teu post ta otimo ... bom saber que tu ta evoluindo cada dia mais, como escritor, como ser humano, nesse planeta que anda ao contrario !

Paulo C. disse...

Chato: Já respondi...

Fernando: Bem vindo! As coisas têm sempre dois lados, mesmo: um ruim; outro pior... :-)

Carlinha: Quem é comilão como eu, também tem muita dificuldade de abandonar qualquer comida gostosa, independentemente de convicções filosóficas... Beijocas!

Déa: Yeah, yeah, yeah...!!!
Queria ter visto esse róseo das faces. Pelo menos consegui provocar uma vasodilatação periférica :-).
Bjo!

Gabi: Percebi seu "estado interessante" nas entrelinhas, ou melhor, nas "entrefotos". Criança moderna e descolada, antenada com seu tempo, é assim: mesmo antes de nascer, já está nas comunidades virtuais e sendo apresentada aos amigos idem. A felicidade transpira, lá no seu sítio. Dá pra sentir.
Será que mãe vegetariana produz leite de soja?
Beijos, com muita ternura, para vocês dois (ou duas).
Não vejo a hora de ver o teu blog! Provavelmente o primeiro post será sobre.... maternidade. Acertei?

Andréa disse...

Haaaaaaaaaaaaaaaaa, "mae vegetariana produzindo leite de soja" eh TUDOOOO! Desculpe a impertinencia, mas nao resisti. :-)

Gabi disse...

http://casadeclarices.blogspot.com/

Beijocas blogueiras da mãe vegetariana que não produz leite de soja ... ainda ! ;-)

*hahahahahahahaha*

ipaco disse...

quando comecei a trabalhar como jornalista, nos anos 80, inicialmente me especializei em temas ecológicos. Viajei pela Amazônia diversas vezes e em diversas partes, fiz matéria sobre ribeirinhos, bichos, flora o escambau... depois o jornalismo foi mudando, ficando voltado mais pra celebridades e fait divers... adorava conhecer esses lugares. Foi uma época muito feliz.

Gabi disse...

ta na hora de atualizar isso aqui, não ?! =P

Carlinha Salgueiro disse...

Vim agradecer o elogio, mas faça como eu, superprodução para tirar fotos...
Vale tudo pra ficar bela! Até na 3x4.
Beijos!