sexta-feira, 1 de setembro de 2006

O ADVOGADO DO DIABO



Um dos filmes mais inteligentes que assisti foi "O Advogado do Diabo" (The Devil´s Advocate, 1997). Principalmente pelo roteiro. Os diálogos são de uma precisão cirúrgica. E, quando estão na voz de John Milton, o Belzebu, vivido por Al Pacino, são de um sarcasmo diabólico.
Já é uma ironia ácida colocar o demônio na pele de um advogado, "chairman" de um escritório jurídico, cheio de diabinhos travestidos de juristas. Exatamente aqueles que devem defender a verdade, a lei e, principalmente, a justiça.
Mas são as falas de Milton/Pacino que fazem deste filme um primor, a começar daquela, sempre repetida em vários momentos: "Vanity! Definitely my favorite sin." É pela vaidade, principalmente, que o diabo consegue seduzir suas almas. O homem renuncia a tudo - inclusive ao amor - para satisfazer sua necessidade de ser admirado. Nada é mais importante do que poder e prestígio perante homens e mulheres. Milton chega a oferecer a Kevin Lomax que se afaste de um caso importante, para dedicar-se mais à mulher (Charlize Theron, mais linda e competente do que nunca) que está seriamente doente. Ele recusa dizendo: "Sabe o que me assusta? Eu desisto do caso, ela melhora...e eu passo a odiá-la por isso."
O diálogo final entre Milton e Lomax, seu filho, é quase um monólogo onde Al Pacino arrasa, como sempre. Tem trechos memoráveis, como este:

"Let me give you a little inside information about God. God likes to watch. He's a prankster. Think about it. He gives man instincts. He gives you this extraordinary gift, and then what does He do, I swear for His own amusement, his own private, cosmic gag reel, He sets the rules in opposition. It's the goof of all time. Look but don't touch. Touch, but don't taste. Taste, don't swallow. Ahaha. And while you're jumpin' from one foot to the next, what is he doing? He's laughin' His sick, fuckin' ass off! He's a tight-ass! He's a SADIST! He's an absentee landlord! Worship that? NEVER!"

Numa tradução livre, não literal e resumida:

"Vou lhe dar uma pequena informação de bastidores sobre Deus. Deus gosta de assistir. É um gozador. Pense nisso. Ele dá instintos ao homem. Dá esse dom extraordinário e então o que Ele faz, juro, para seu próprio divertimento? Estabelece as regras em sentido contrário. É a 'pegadinha' do século. Olhe, mas não ponha a mão! Toque, mas não experimente! Prove, mas não engula! E, enquanto você fica pulando de um pé para o outro, o que ele faz? Fica rindo! Fica disfarçando, com se não tivesse nada a ver com isso. É um sádico! Venerar isso? NUNCA!"

Vamos e venhamos! Sem querer ser o advogado do diabo (não dá pra concordar com a sua falta de ética, nem com seus métodos de aliciamento, nem com seus objetivos escusos, etc.), mas não é que seus argumentos têm alguma lógica... Nossa luta para sermos virtuosos é uma eterna guerra contra nós mesmos. Engula, engula, engula e tampe bem tampado.

9 comentários:

Andréa disse...

Excelente, Paulo. Eu também fiquei impressionadíssima quando vi esse filme, e convenhamos, o Keanu Reeves não é bem um grande ator. Mas é isso mesmo, diálogos excelentes + o talento do Al Pacino + a beleza da Charlize. Outro filme que me impressionou também por causa do Al Pacino, e recentemente, foi "O Mercador de Veneza". Mas aí, também, é covardia né? O texto é do Shakespeare. Vc viu? Se não, não perca.

Andréa disse...

Eu pensei nisso mesmo quando li seu post, Paulo (sobre não mencionar o Keanu). Não precisou mesmo. Ele até que não está ruim nesse filme. O resultado final é tão bom, anyway.

tici disse...

O filme é mesmo excelente. Tb acho que a interpretação sem sal de Keanu não prejudica o resultado final. E essa fala que vc selecionou é maravilhosa! Volte e meia me lembro dela!
Beijo grande!

Marina disse...

Al Pacino é grande. É mestre. Nesse filme, em "Perfume de Mulher" e em muitos, muitos outros.

Anônimo disse...

Se colocassem esse texto no verso do DVD seria campeão de vendas! É um dos meus filmes favoritos, mas poucas pessoas conhecem.

Anônimo disse...

"Nossa luta para sermos virtuosos é uma eterna guerra contra nós mesmos. Engula, engula, engula e tampe bem tampado". Dói... queria discutir que é diferente, mas infelizmente é assim mesmo! Em quantas situações o ideal seria o contrário, mas pelo bem geral e pelo nosso próprio "bem" calamos, não é?

Anônimo disse...

Pois então cabei de ver, e decidir postar sobre o filme, mesmo sendo 11 anos depois de sua estreia, tomei a liberdade de retirar do seu texto a visão do john Milton (lucifer) para colocar no meu blog, somente dessa parte.

Obrigado me amarrei no texto!

Carla Rocha disse...

alguém sabe a continuação dessa frase:" O livre arbítrio é como uma borboleta basta um toque..."

adespfutsal disse...

O livre arbítrio é como uma borboleta, basta um toque em suas asas para que voe pela primeira vez

Com certeza um dos melhores filmes que já vi, e que me faz ser cada vez mais fã de Al Pacino...