sexta-feira, 11 de agosto de 2006

ONE FROM THE HEART


Depois de filmar Apocalypse Now, Francis Ford Copolla enlouqueceu (no melhor sentido) - ou já era louco (no melhor sentido). Trancou-se e escreveu, produziu e dirigiu uma sofrida crônica sobre corações partidos, amor e paixão.
One From the Heart (Do Fundo do Coração), lançado em 1982, foi massacrado pela crítica, não teve público nenhum e afundou financeiramente.
O filme é lindo, com um cenário propositadamente "fake", muito neon numa Las Vegas cenográfica, fotografia com cores saturadas e uma breguice proposital em tudo.
A trilha é uma das coisas mais lindas que já ouvi. Foi indicada para o Oscar, mas não levou.
Tom Waits, pegou todo o espírito de fossa - daquela dor de corno que mata ou gera assassinos - e fez melodias maravilhosas com letras que parecem ter sido escritas num guardanapo de bar.

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"I´m just a scarecrow without you...
Baby, please don´t disappear
I beg your pardon, dear"

Canta como se tivesse bebido todas - e acho que bebeu mesmo - com aquela voz rouca e a dicção pastosa. Como contraponto, colocou a fala da personagem feminina na voz firme, cristalina e linda de Cristal Gayle. O diálogo sonoro dos dois é algo de arrepiar, de tanta dor e ironia:

- Tom: "Here comes the bride, and there comes the groom
Looks like a hurricane went through this room"

- Crystal: "Smells like a pool´s hall, where´s my other shoe
And I´m sick and tired of pickin´up after you"

No final da canção, depois de ela repetir em cada estrofe que está "sick and tired of pickin´up after you", ele manda a última fala.....impiedosa e sarcástica.

- Tom: "Take all your relatives and all of your shoes
Believe me, I´ll really swing when you´re gone
I´ll be living on chicken and wine after we´re through

With someone I pick up after you"

Embora seja um musical e tenha muita ironia e comédia, o filme traz, no subtexto, a dor da separação e a amargura da solidão que sobrevem a ela. A música de Tom Waits é um elemento fundamental na criação dessa atmosfera.
Copolla e Tom Waits têm algo em comum. Primeiro, são "gênios da raça". E são meio "marginais", no sentido de ficar "à margem" do fluxo comum. O casamento deles aqui só podia dar muito certo, a despeito dos que não gostaram, ou melhor, até por eles. Gênios e marginais detestam a unanimidade.


Um comentário:

Andréa disse...

Poxa, ficou excelente, Paulo. Eu nao assisti a esse filme- agora QUERO. O Tom Waits parece ter sido mesmo a escolha perfeita pro som. Estava vendo ele e o Iggy Pop, de novo anteontem- estava passando na TV "Coffee & Cigarettes" do Jim Jarmush, que eu ADORO.
O Copolla eh um genio, mesmo. Ainda nao curto muito os filmes da filha dele, mas acho que ela esta aprendendo. Daqui ha pouo fica boa tambem.
Uma otima semana pra ti.